terça-feira, 6 de novembro de 2007

Mário de Andrade - Quarenta Anos

A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu em sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar...Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado...Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem! Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

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